Hoje me deparei com um artigo sobre lendas urbanas da minha cidade. Eu sempre fui fascinada por lendas urbanas, esse sentimento de terror a o sobrenatural e inexplicável é tão ligado a uma inocência... fantasias, sobre o cruel, o mal. A exploração do medo através do imaginário. Com o decorrer da vida o medo se torna cada vez mais concreto e palpável e o imaginário é substituido.
Bom, o artigo em si traz lendas que mesmo não ouvidas ou esquecidas são aceitas tão delicadamente que parecem ser contadas como histórias de ninar, o tempo que remonta a uma cidade, minha cidade natal, em sua construção, um lugar amazônico de mata virgem e inexplorada. Me pego com um ligação íntima a cada narrativa, com uma familiaridade acolhedora(o que não sinto hoje morando aqui) mais quase instantânea ligação com a natureza.
Pensei sobre a construção da identidade, diretamente da psique coletiva da minha cidade natal e assim como demonstrado pela históriadora há um sentimento de ruptura, psiquê dual como retrato de sua cidade dual, cortada ao meio e coersiva a uma identidade "boa" "limpa" em "ordem". Contra a parte "mal", "suja" e "desordeira". E essa é uma cidade que nasce triste. E isso é claro é um ponto de minha percepção, de fato é uma cidade que nasce ao lado da morte, da negação e loucura. Da disputa entre o homem e o natural. Pois, sim, a uma resposta da natureza e podemos chama-la de severa. O que contabiliza morte e loucura. Assim no meio da beleza severa, selvagem encontra-se a morte e insanidade. Imagino tantas árvores gigantes, ventos gemendo e correntes, o rio ainda mais selvagem, e os sons de bichos cobrindo o dia e a noite. A noite dava espaço a floresta, seres. Acredito que uma floresta viva é uma floresta espiritual. Reais ou não, existiam em um imaginário mais fértil e materilizavam-se de boca em boca e olhos, é claro. Seres ligados a animais e humanos na íntima ligação do homem e natureza.
Bom, acho que acabei me deixando levar muito nesse texto, pois ele me elevou a um êxtase e ao mesmo tempo calma. Tanto há lembranças de acordar na madrugada e observar pela brecha no vidro da janela a rua vazia á espera dos espíritos que se levantavam a meia noite e andavam pela cidade, quanto a beleza de ficar horas e horas observando um rio feroz desaguando. A sensação de olhar as águas e sentir a vida e ao mesmo tempo a morte. Penso que muitos nascidos na Amazônia tenham essa percepção mais sensível a natureza, uma interligação íntima e perturbadora. O explorar da natureza nesta terra poderia muito bem ser simbolizada pela exploração coersiva e violenta do si mesmo. Socialmente forte e internamente frágil.
Tal exploração não está para vida e auto conhecimento ao contrário para a negação e silênciamento das "sombras". A tal ponto que as potencias da alma enlouquecem ou matam quem se atreve a explora-la sem cuidado.
Há uma pequena voz que ressoa minha alma respondendo a pergunta que me faço há anos, "por que aqui?"
Essa cidade nasce a partir da loucura e sofrimento, porém é retratada por histórias heróicas e belas. Ainda se faz necessário se adentara a terra selvagem e negada. "Obscura e encantada"
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